TRAIÇÃO !! A História do Casal que Chocou os EUA.

Eles eram um casal comum do Lower East Side de Nova York, com dois filhos pequenos e uma vida que parecia igual a tantas outras. Mas por trás da fachada de normalidade, Julius e Ethel Rosenberg se tornariam os nomes mais infames da história da Guerra Fria nos Estados Unidos.

8/12/20254 min read

A Teia de Julius e a Dúvida sobre Ethel

O caso deles foi um turbilhão de espionagem nuclear, histeria anticomunista e uma tragédia humana que culminou em uma execução que ecoa até hoje.

Tudo começou com uma ponta solta. Em 1950, as autoridades americanas prenderam um físico britânico, Klaus Fuchs, que confessou ter passado segredos nucleares aos soviéticos. A investigação de Fuchs levou ao maquinista do Projeto Manhattan, David Greenglass, que era irmão de Ethel Rosenberg. Para salvar sua própria pele, Greenglass fez uma confissão bombástica: ele acusou seu cunhado, Julius, de ser o líder de uma rede de espionagem. E, em uma reviravolta que selaria o destino da família, ele implicou sua irmã, Ethel, no esquema.

Julius Rosenberg era, sem dúvida, o cérebro da operação. Como engenheiro elétrico e membro convicto do Partido Comunista, ele usou sua ideologia para justificar suas ações, acreditando que estava ajudando a equilibrar o poder global. Ele recrutou David Greenglass para roubar informações cruciais sobre a bomba atômica. Anos mais tarde, a abertura de arquivos soviéticos confirmou a participação de Julius, tornando-o, aos olhos da história, um traidor inquestionável.

Mas o caso de Ethel é uma história completamente diferente e muito mais assustadora. A promotoria precisava de uma prova sólida contra ela, e a única coisa que conseguiu foi o testemunho de seu próprio irmão, David. Para reduzir sua própria pena, David Greenglass afirmou que Ethel datilografou as notas de Greenglass sobre o design da bomba. Ele disse que ela era o "braço direito" de Julius. O júri acreditou nele.

O que não se sabia na época, e que só foi revelado décadas depois, é que o testemunho de Greenglass contra a própria irmã foi uma mentira fabricada para proteger sua esposa, Ruth, que também estava envolvida. Em 2001, ele admitiu que a parte sobre Ethel datilografando era uma farsa. A promotoria, desesperada para que Julius confessasse, usou Ethel como isca. A ideia era simples e cruel: se o marido não confessasse, sua esposa seria executada. Mas Julius, em uma demonstração de obstinação ou talvez convicção, não cedeu. Ele se recusou a trair seus camaradas.

A Execução e o Legado de um Nome Infame

O julgamento ocorreu no auge do macarthismo, um período de histeria anticomunista em que a paranoia e o medo governavam o país. O juiz Irving Kaufman, em sua sentença, afirmou que o crime dos Rosenberg era "pior que assassinato" e que a traição deles havia "mudado o curso da história", permitindo aos soviéticos construir a bomba atômica antes do previsto e, por fim, causando a Guerra da Coreia. Era uma acusação pesada demais para um simples casal de espiões.

A pena de morte por eletrocussão foi sentenciada.

Em 19 de junho de 1953, enquanto os filhos Robert e Michael Rosenberg esperavam em vão por seus pais, Julius e Ethel foram levados para a câmara de execução. Julius foi primeiro. Ethel veio em seguida. O relato da execução de Ethel é particularmente perturbador, com a equipe da prisão tendo que aplicar uma segunda carga elétrica para garantir que ela havia morrido.

O caso dos Rosenberg dividiu a América e o mundo. Intelectuais, líderes religiosos e até mesmo o Papa pediram clemência. Mas a administração do presidente Dwight D. Eisenhower se recusou, argumentando que a ameaça comunista era grande demais para permitir que a traição ficasse impune.

Décadas depois, com a abertura de arquivos soviéticos e a confissão de David Greenglass, a história foi reescrita. A culpa de Julius é hoje inegável. Mas a de Ethel? A de uma mulher que foi executada com base em um testemunho forjado por seu próprio irmão para salvar a esposa dele? Esse é o trágico enigma que ainda assombra a história americana. Se Ethel não foi uma espiã, ela foi a vítima mais trágica e injusta da histeria anticomunista da Guerra Fria. Seus filhos, agora adultos, continuam a lutar pela reabilitação de sua mãe, um eco de uma batalha que começou em 1953 e nunca realmente terminou.
O caso Rosenberg é um exemplo dramático e doloroso de como a linha entre patriotismo e traição pode ser brutalmente traçada nos Estados Unidos, especialmente em tempos de conflito e paranoia.

A história dos Rosenberg mostra que a nação americana, em seu cerne, tem uma tolerância quase nula para o que considera ser traição, especialmente quando a segurança nacional está em risco. O patriotismo, nesse contexto, exige uma lealdade inabalável ao Estado e às suas instituições. Qualquer desvio dessa lealdade, como o fornecimento de segredos a um inimigo ideológico, é visto como a mais grave das transgressões. A execução de um casal de civis, com filhos pequenos, em tempos de paz, demonstra a seriedade com que o governo tratava o assunto. A mensagem era clara e definitiva: a traição não seria perdoada.

O que torna o caso dos Rosenberg tão trágico é a maneira como ele se desenrolou no auge da histeria anticomunista. A paranoia da "Ameaça Vermelha" não permitiu nuances. Não havia espaço para a ideia de que a lealdade ideológica de Julius pudesse ser separada de um crime de traição. A punição foi máxima, sem misericórdia, e serviu como um aviso sombrio a qualquer um que pensasse em seguir um caminho semelhante.

O caso, com sua controvérsia e o posterior arrependimento de uma testemunha-chave, levanta uma pergunta incômoda: a América realmente não perdoa a traição, ou ela se recusa a perdoar mesmo quando a justiça pode ter sido mal aplicada? A execução de Ethel, que décadas depois se mostrou questionável, serve como um lembrete perturbador de que, na busca por punir a traição, a linha entre a justiça e a vingança pode se tornar perigosamente tênue.

Em última análise, a lição do caso Rosenberg é que, na narrativa americana, o patriotismo é uma virtude sagrada. A traição, por outro lado, não é apenas um crime; é uma mancha indelével que, aos olhos da nação, merece a punição mais severa possível, sem espaço para perdão.