O Cheiro de café se espahou por todo estado de São Paulo! Queimaram todo o café !

O café é parte indissociável da cultura e da economia brasileira desde o século XIX. O impacto dessa commodity foi tão profundo que, em português, a primeira refeição do dia é chamada de "café da manhã".

2/13/20253 min read

O café é parte indissociável da cultura e da economia brasileira desde o século XIX. O impacto dessa commodity foi tão profundo que, em português, a primeira refeição do dia é chamada de "café da manhã". No entanto, entre 1931 e 1944, o Brasil queimou 78,2 milhões de sacas de café, um volume tão impressionante que equivaleria a quase quatro anos de consumo interno nos dias de hoje.

Mas o que levou o Brasil a um ato tão drástico? A resposta está na importância política e econômica do café e nas estratégias adotadas para proteger o mercado e a economia nacional.

O Café como Pilar Econômico

No início do século XX, o Brasil era responsável por aproximadamente 70% da produção mundial de café. Esse domínio trouxe grande prosperidade ao país, mas também o tornou vulnerável a flutuações de preço no mercado internacional. A crise de 1929, desencadeada pelo colapso da Bolsa de Valores de Nova York, reduziu drasticamente a demanda por café, levando a uma queda vertiginosa nos preços e a um excedente de produção.

Diante dessa crise, o governo brasileiro, sob a liderança de Getúlio Vargas, decidiu intervir para evitar um colapso econômico no setor cafeeiro. A queima de milhões de sacas de café foi parte de uma estratégia para reduzir a oferta e tentar manter os preços em um patamar minimamente sustentável.

O Plano de Valorização do Café

A política de valorização do café já existia antes da crise de 1929. Desde o início do século, o governo comprava e estocava sacas para evitar que os preços despencassem. No entanto, com a crise econômica global, os estoques cresceram além da capacidade de armazenamento, tornando a queima inevitável.

Entre 1931 e 1944, cerca de 78,2 milhões de sacas foram queimadas ou descartadas de outras formas, como o despejo no mar. Os ciclos de queima do café ocorreram principalmente na grande cidade portuária de Santos, onde atualmente mais de 75% de todo o café ainda sai do Brasil até hoje. A intenção era conter a queda dos preços e garantir a sobrevivência dos cafeicultores. Esse período foi marcado por uma forte intervenção estatal na economia, característica da Era Vargas.

Os jornais da época noticiavam o cheiro de café queimado que era carregado pelo vento para cima e para baixo no litoral paulista. Enormes nuvens de fumaça de café podiam ser testemunhadas a quilômetros de distância. Para não ir completamente para o lixo, o café destinado à destruição também foi usado como fonte de combustível experimental em algumas fábricas e caldeiras industriais, além de alimentar fornos e trens.

Eventualmente, o volume de café enviado para as queimadas foi tão grande que os trabalhadores portuários começaram a jogar grãos no mar para reduzir os estoques. Algumas pessoas, então, começaram a coletar esse "café marinho" antes de secá-lo, ensacá-lo e depois revendê-lo – um crime.

O Impacto e as Consequências

Apesar das medidas drásticas, a destruição do café gerou críticas dentro e fora do Brasil. Muitos viam o ato como um desperdício em tempos de dificuldades globais. Contudo, essa política ajudou a manter a economia cafeeira até que novas alternativas econômicas começassem a ser desenvolvidas no país.

A longo prazo, o Brasil diversificou sua economia, investindo em industrialização e em outras áreas agrícolas. Mesmo assim, o café continua sendo uma das principais exportações do país e um símbolo inegável da cultura nacional.

O episódio da queima do café nos lembra dos desafios que economias dependentes de uma única commodity podem enfrentar e das difíceis decisões que governos precisam tomar em tempos de crise. É um exemplo emblemático de como a política econômica pode moldar o destino de uma nação e de seus cidadãos.

Os Desafios Tecnológicos e o Cenário Global Atual

Atualmente, o Brasil enfrenta desafios semelhantes no campo das commodities e da manufatura, mas em um contexto muito mais tecnológico e globalizado. A automação e a digitalização transformam o setor produtivo, exigindo investimentos em inovação e qualificação da mão de obra. A dependência de matérias-primas e a falta de uma indústria manufatureira mais competitiva dificultam a inserção do país em cadeias globais de valor, reforçando a necessidade de políticas industriais estratégicas.

Além disso, o cenário geopolítico e econômico global é altamente instável, com disputas comerciais, mudanças climáticas e crises energéticas impactando diretamente a competitividade brasileira. Para superar esses desafios, o Brasil precisa diversificar sua matriz produtiva, investir em tecnologias emergentes e fortalecer sua posição nos mercados internacionais sem repetir os erros do passado, como a excessiva dependência de uma única commodity.